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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

2008.02 em Motor Clássico nº 12
O herói sem tempo.
Jaime de Campos


No seu posto de trabalho, entre papéis e números aborrecidos, o contabilista exercitava o poder de cálculo para saber quando podia voltar aos circuitos. Antes de bater os seus rivais, Jaime de Campos tinha, muitas vezes, de vencer a crueldade das contas.
Esta é a história de um irreverente e destemido herói nortenho, que apaixonou os adeptos de então.


A competição é, para alguns um “negócio de família”. Para outros, um interessante hobby. Há ainda aqueles para quem competir é uma obsessão incontornável, indissociável da sua personalidade e que se exprime das mais diversas formas. O “sportman” nortenho Jaime de Campos (como se lhe referiam os jornais de então) era um destes homens. Daí que o seu nome se tenha tornado conhecido ainda antes dos seus feitos sobre rodas. Aliás, o seu porte delicado parecia enquadrar-se muito mais na sua outra paixão desportiva: o atletismo.
Esforçado e com boa resistência, Jaime cedo se fez um “pedestrianista” destacado do F.C. do Porto, estreando-se em 1921 na “3ª Milha do Jornal de Notícias” com um 3º lugar. Ao longo desse mesmo ano, o atleta tornou bem evidente a sua fibra de campeão ao vencer a “Légua do Janeiro”, seguindo-se um 3º lugar no “Festival do Benfica”, um 2º posto no “Miriametro da Foz do Douro” e mais 4 vitórias na “Légua de Braga”, nos “7500 metros do Racing Clube do Porto”, no festival “Vilanovense-Nun’Álvares” e no “Torneio do Leixões”.
Ainda muito jovem e sem ninguém que lhe patrocinasse outras actividades desportivas, o atleta teria de esperar vários anos até se tornar motociclista.

Um arranque auspicioso.
Foi em1927 que, Jaime de Campos experimentou as duas rodas. O “Circuito de Aveiro” foi a sua prova de estreia e em que logo arrecadou, sem cerimónias, um segundo lugar. Mas, apesar deste início promissor, o piloto ainda não dispunha de recursos que lhe permitissem assiduidade nos circuitos.
Foi inicialmente como funcionário do Tribunal de São João Novo e mais tarde como contabilista, que Jaime foi procurando reunir condições financeiras que lhe permitissem conciliar a posição de chefe de família com as suas ambições desportivas.
É, então, em 1932 que o portuense faz a primeira temporada completa. A sua vontade de vencer ficou bem expressa com três triunfos consecutivos em outras tantas importantes provas: Boavista, Boca do Inferno e Estoril. Nesse ano, apenas não venceu nas provas onde desistiu por avaria. Primeiro no Circuito do Campo Grande e, em seguida, no Circuito de Aveiro, onde ainda firmou a volta mais rápida à respeitável média de 105 kms/h.
O ano de 1934 ficou marcado pela realização do primeiro Circuito de Vila Real em motos. Jaime de Campos compareceu aos comandos de uma já ultrapassada Royal Enfield pelo que, ainda que inscrito na categoria menos competitiva, mais não fez do que chegar ao fim. Na classe Sport, apenas ele e Augusto de Almeida lograram concluir a prova, com este último a passear a superioridade da sua potente Rudge. A categoria Corrida seria vencida pelo famoso Alexandre Black, aos comandos de uma Norton 500. Esta vitória era um indicador da superioridade que a Norton começava a esboçar. E, para reforçar a sua competitividade, a marca britânica passou a fazer-se representar oficialmente em vários campeonatos nacionais, incluindo o Português. Nessa altura, o carisma e a tenacidade que Jaime de Campos reunia, terão sido decisivos para conquistar a privilegiada posição de piloto oficial da Norton em Portugal.
Com esta nova premissa, veio um grande ímpeto no seu percurso. Em 1935 vence o Campeonato de Portugal disputado no Porto. No ano seguinte, volta a Vila Real com toda a garra, mas uma avaria na sua Norton 500 motiva a desistência. A vingança sobre a má sorte não tardou e, em 1937, vence à geral.


Os amigos, os adversários e os desgostos.
A competição proporcionou a Jaime de Campos muito mais do que a glória. Ao longo do seu percurso, o piloto conquistou tantos troféus como amigos, alguns deles seus fervorosos adversários. Foi por essa razão que o ano de 1938 marcou de forma profunda a sua vida e a sua carreira desportiva. Para esta época estava agendada a estreia da prova da “Avenida Marechal Gomes da Costa”. Como sempre, Jaime travou, desde os treinos, um dos seus duelos com o grande amigo e companheiro de equipa Henrique Emiliano. Partindo do primeiro lugar, Henrique conduz determinado, sabendo que o seu adversário não lhe daria tréguas. Mas inesperadamente, à décima volta, a moto de Emiliano descontrola-se seguindo de encontro ao passeio e provocando uma violenta queda. Jaime, que seguia a escassos metros do líder, não consegue evitar o choque com o seu corpo inerte. A caminho do hospital, Emiliano acaba por perder a vida.
A triste prova seria vencida por António Pinto, piloto lisboeta e filho desse outro bem sucedido motociclista, Inocêncio Pinto. Dispondo sempre de condições económicas e técnicas superiores, António tornou-se no novo adversário directo de Jaime de Campos. Entre os dois pilotos foi alimentada durante anos uma rivalidade muito ao género de um Porto-Benfica motociclistico, ao qual não faltaram sequer os episódios mais polémicos. Um deles imortalizado por uma carta aberta de António Pinto ao jornal “Volante” em 1950, em que acusa o portuense de usar injustamente a braçadeira de campeão nacional relativa à época de 1939 e que, na sua opinião, lhe pertencia.

O regresso pós-guerra e a internacionalização.
O ano de 1948 trazia de volta o motociclismo, após longa pausa motivada pela 2ª grande guerra. Durante este hiato, Jaime dedicara-se ao negócio do pai e à, já numerosa, família. Pai de 7 filhos, o piloto contava agora 45 anos. Mas nem a idade, nem as responsabilidades, pareciam ser obstáculo à sua competitividade.
1948 poderia ter sido o seu ano de internacionalização. Entusiasmado com o convite para alinhar no Grande Prémio de Madrid, Jaime sofreu enorme desalento ao não consegui ter a sua moto pronta à hora da largada. Seria só no ano seguinte, na “Prova dos Ases”, que o português viria a medir forças com os melhores internacionais. Apesar de levar para Barcelona uma Norton completamente obsoleta e de ter de enfrentar um circuito desconhecido e muito técnico, o veterano não deixou de impressionar. À 22ª volta ao longo circuito, Jaime de Campos ocupava a 4ª posição da geral, à frente de vários nomes de peso do motociclismo europeu. Foi então que a fiabilidade da sua máquina voltou a ser protagonista, com um derrame de óleo na tampa da distribuição a forçar a desistência. Episódio semelhante viria a suceder na sua segunda participação na prova de Madrid onde, uma vez mais, Jaime de Campos evidenciava um andamento notável.

As injustiças e a suspensão.
Um dos aspectos marcantes na personalidade de Campos era a sua frontalidade e inconformismo. O piloto nunca hesitava em criticar quem quer que fosse e em defender seus princípios.
A 30 de Junho 1949 que “O Norte Desportivo” publicou uma das mais polémicas entrevistas da história do motociclismo, em que o piloto do Porto acusava frontalmente a direcção do Moto Clube de Portugal de sonegar uma parte dos prémios de corrida. Num incontido desabafo, Jaime indicou nomes e apresentou testemunhas, revelando inclusive ter sido ameaçado com a pena de erradiação caso insistisse em “agitar as águas”. E assim aconteceu. Após a publicação destes factos e, para indignação dos entusiastas do Norte, o seu herói desportivo seria afastado das pistas. No entanto, em 1950 Jaime de Campos vê a sua penalização levantada e retorna ao motociclismo com renovado entusiasmo.

As dificuldades e a solidariedade popular.
Em 1949, Jaime de Campos tinha vencido uma outra vez o Circuito de Vila Real. Mas em 1950, nem a sua determinação e coragem pareciam argumentos suficientes para se bater com António Pinto e outro pilotos bem equipados.
Jaime era de tal forma seguro e apaixonado pela competição que - contam as suas filhas – chegava a cometer algumas loucuras, a contar com o prémio da corrida. A mais comum delas consistia em vender ou penhorar a mobília de sua casa para poder adquirir motos ou peças, prometendo à esposa renovar a decoração com o valor dos prémios. Era certo que, na maioria das vezes, o chefe de família alcançava resultados que lhe permitiam cumprir o prometido. Vencer à geral era, apesar disso, cada vez menos comum. Os jornais de então comentavam que os 46 anos do motociclista não se notavam, mas que a sua velha Norton não lhe permitia grandes ambições.
É na sequência destes factos que se dá um episódio revelador do quanto Jaime de Campos apaixonava o público nortenho: o jornal “O Norte Desportivo” lança uma subscrição para a compra de uma nova moto para o piloto, a qual teve pronta adesão dos seus leitores.

A “corrida” final.
Jaime de Campos vivia intensamente a sua vida privada, dividido entre o convívio familiar e a sua paixão pelas motos. Mas no dia 9 de Setembro de 1950, as duas paixões cruzaram-se de forma macabra. Num calmo domingo que contrastava com os habituais fins-de-semana prova, Jaime almoçou animadamente entre família e amigos. Após a refeição, parte para um pequeno passeio na mota emprestada pelo seu amigo e piloto Fernando Moreira da Silva. Por ironia do destino, seria na estrada da Circunvalação, parte integrante do Circuito da Boavista e que tantas vezes percorreu nos limites, que perderia o controlo da moto. Embatendo violentamente numa árvore, o piloto morreu de imediato.
A cerimónia fúnebre foi a prova final de que, no curto tempo da sua carreira, Jaime de Campos tinha conquistado um estatuto de herói. Milhares de pessoas acompanharam emocionadas a derradeira corrida do motociclista, num funeral que ainda hoje é recordado como um dos mais concorridos de que há memória na cidade do Porto.

A memória.
O nome de Jaime de Campos já só é recordado por alguns dos mais velhos entusiastas da modalidade. Mas numa época em que o desporto motorizado é cada vez menos exigente em termos de bravura, nunca é demais recordar um dos mais destemidos pilotos da época em que os travões de tambor e os capacetes abertos eram as únicas defesas disponíveis para enfrentar os perigosos circuitos citadinos.
O tempo foi curto para o talento de Jaime de Campos, mas a memória dos seus feitos poderá ainda perdurar por gerações.
2008.02 em Motor Clássico nº 12
Desportivos de Bolso
Hot-hatch







Eram práticos como um normal utilitário, mas detalhes estéticos, muitas vezes discretos, revelavam uma predisposição para a performance que envergonhava modelos mais potentes e caros.

Nas décadas de 60 e 70, as transformações sociais e a prosperidade económica da maior parte dos países desenvolvidos, criaram um ambiente único para o crescimento da indústria automóvel. A imaginação dos carroçadores e engenheiros viveu dias de grande liberdade. Desde os microcarros para as cidades cujo espaço e mobilidade se ressentiam do “baby boom”, aos exuberantes GT inspirados pela competição, passando pelos pequenos e espartanos desportivos destinados ao emergente mercado dos condutores adolescentes, novos modelos nasciam a cada dia e os salões internacionais eram mais agitados do que nunca. A sociedade de consumo prestava um grande serviço aos amantes dos automóveis, absorvendo avidamente os mais arrojados conceitos. Aqueles que um dia viriam a ser os clássicos mais desejados. Comparativamente, os anos 80 seriam uma travessia no deserto no que diz respeito à produção de veículos orientados para o puro prazer de condução. Os tempos da Pop e dos excessos, davam agora lugar a um clima económico e político mais apreensivo e sério. A pele e a madeira cediam ao vinil. O cromado era deposto pelo plástico. Dezenas de construtores independentes e de pequenas dimensões, deixavam de encontrar os seus nichos e fechavam portas. O mercado automóvel passava a ser feito exclusivamente de economias de escala e escassos foram os produtores “artesanais” que sobreviveram aos anos do “racional”. O mundo havia mudado, mas os entusiastas dos automóveis continuavam a existir. Para responder aos anseios dos condutores que resistiam em entregar-se ao design angular e a ver o carro como um monótono meio de transporte, era urgente criar uma alternativa rentável. A necessidade de produzir muito, investindo o mínimo possível, punha de parte as ideias mais ousadas. A transmissão clássica, os coupés e roadsters desportivos, não encontravam mercado suficiente para pagar os custos de desenvolvimento, cada vez mais onerosos graças a medidas ambientais e de segurança. A resposta que os construtores procuravam teria de permitir conciliar a emoção da condução, com um “layout” orientado para os aspectos práticos e económicos. Para encontrá-la, não foi preciso re-inventar a roda. Os pequenos desportivos de tracção, ou “hot-hatch” – como viriam a ser rotulados – foram uma “invenção” reclamada pelos germânicos com o íconico Golf GTI. Mas na verdade, talvez os britânicos possam reclamar o mérito desta descoberta. Pois o que foi o Mini Cooper S, senão o pioneiro do espírito “hot-hatch”? Uma base orientada para a economia, uma mecânica vitaminada, uma suspensão mais ousada e eis um carro de compras transformado num excitante desportivo. É certo que para corresponder à designação “hot-hatch”, faltava ao Mini um pormenor: a terceira porta, a que os anglo-saxónicos chamam “hatch” (portão). No entanto, foi esta fórmula criada em 1961 que serviu para apimentar as gamas das mais variadas marcas ao longo da década de 80. Assim se foram desenvolvendo as capacidades dos carros de tracção a pontos de serem criados alguns modelos que hoje são ícones entre os clássicos desportivos. O Peugeot 205 GTI, o Golf GTI e o Renault 5 GT Turbo, são apenas os exemplos mais evidentes. O certo é que, estes e outros modelos, rapidamente passaram a preencher os sonhos de vários entusiastas. E se, vistos à distância de duas décadas, estes carros já não são tão impressionantes como nos pareciam, o fascínio juvenil ainda é aquele que domina os nossos sentimentos.
Aqui ficam alguns dos mais notáveis desportivos de “bolso”, quase todos, ainda hoje interessantes de utilizar, mas cada vez mais difíceis de encontrar em boas condições.



Volkswagen Golf GTI 1.6 (1976)

O original e, talvez o mais bonito de todos os GTI, é um dos pioneiros e um dos que melhor interpretam o conceito. O comportamento do Golf é divertido e as “performances” bem interessantes. Este VW ainda é do tempo em que a marca alemã se destacava inequivocamente em termos de fiabilidade e qualidade de construção.
O GTI original é cada vez mais procurado, com consequência evidente nos preços de venda.

Motor: 1588 cc; 110 cv às 6100 rpm
Dimensões: Comprimento: 3721 mm; Peso: 830 kg
Performances: 0-100 km/h: 8,7 s; Vel. Max.: 180 km/h
Preço: 2045 contos
Menções honrosas: Mk I GTI 1.8

A favor: O mais famoso de todos.
Contra: O preço da fama.
Balanço final: Bom, bonito e divertido.


Ford Fiesta XR2 (1977)

O Fiesta XR2 original surgiu praticamente ao mesmo tempo que o Golf GTI, mas nunca foi tão virtuoso. Em todo o caso, o pequeno Ford tinha um interessante potencial que foi mais notório na vizinha Espanha, onde ainda é popular e competitivo nos ralis de clássicos.
O modelo de 77 era o mais potente, graças ao seu Weber duplo. Com a versão de 84 cv, o Fiesta passou definitivamente para segundo plano no panorama dos “hot-hatch”. O comportamento é sofrível.

Motor: 1597 cc; 95, 84 (1981)cv às 5750 rpm
Dimensões: Comprimento: 3648 mm; Peso: 840 kg
Performances: 0-100 km/h: 9,3 s; Vel. Max.: 175 km/h
Preço: 1449 c. (1985)

A favor: Encontrará bastantes se for fazer compras a Espanha.
Contra: Mais excitante, só o torrão de Alicante.
Balanço final: Se o preço for convidativo, vale pela originalidade.


Alfa Romeo Alfasud Ti (1980)

Ok! Todos sabemos que os italianos desta época não têm uma relação fácil com climas húmidos. Mas poucos desportivos têm a raça de um Alfa e a reputação de fraca fiabilidade não é muito mais do que um mito. Os Alfasud “hatchback” nunca foram especialmente elegantes, mas a versão Ti tem o seu charme. Especialmente depois de rodada a chave. O motor de 4 cilindros é rápido nas subidas de rotação e a sua sonoridade entusiasmante. Para além do vincado carácter, o Alfasud Ti tem a vantagem de ser uma escolha original.

Motor: 1490 cc; 93 cv às 5800 rpm
Dimensões: Comprimento: 3978 mm; Peso: 865 kg
Performances: 0-100 km/h: 9,2s; Vel. Max.: 170 km/h
Preço: 1610 contos (1985)
Menções honrosas: Alfasud 1.5 Ti QV

A favor: Motor, exclusividade.
Contra: O barulho da ferrugem a mastigar.
Balanço final: Vale a pena considerar.


Autobianchi A112 Abarth 70 cv (1982)

Com base na mecânica do 127, o A112 tinha o que faltava ao Fiat para se assumir como um rival do Cooper S: mais agilidade e muito mais estilo. O pequeno “Bianchi” é especialmente belo na versão original, de acabamentos cromados. Mas a segunda geração é bem mais agradável de utilizar e mais fácil de adquirir.
Prático, simples, interessante e acessível, é talvez a compra mais racional a envergar, merecidamente, o emblema Abarth.

Motor: 1050 cc; 70 cv às 6600 rpm
Dimensões: Comprimento: 3230 mm; Peso: 700 kg
Performances: 0-100 km/h: 12 s; Vel. Max.: 160 km/h
Preço: 1200 c. (1982)
Menções honrosas: A112 Abarth 55 cv

A favor: É tão giro!
Contra: Rápido… para a época. Poucos exemplares disponíveis.
Balanço final: Prático, simples, interessante, acessível.


Innocenti De Tomaso Turbo (1982)

Depois de anos a produzir modelos British Leyland sob licença, a Innocenti foi comprada por Alejandro De Tomaso. Então, com a mesma base, desenho Bertone e mecânica Daihatsu, surgiu o Innocenti De Tomaso Turbo. Neste bonito e pequeno desportivo, a suspensão “hydroelastic” foi substituída por um sistema McPherson na frente e mola de lâminas transversal na traseira. No essencial, o Inoccenti era um Mini turbo de 3 cilindros, com tudo o que isso tem de mau.

Motor: 993 cc; 68 cv às 5500 rpm
Dimensões: Comprimento: 3135 mm; Peso: 710 kg
Performances: 0-100 km/h: 10,8 s; Vel. Max.: 159 km/h
Preço: 1099 c. (1986)

A favor: O nome soa muito bem.
Contra: Fragilidade. Dores nas costas.
Balanço final: Há tantas alternativas...


MG Metro (1982)

Mini Cooper S, Mini Clubman 1275 GT, MG Metro. Por vezes a evolução é uma chatice. Mesmo assim, com base no velho motor da série A, a MG desenvolveu um pequeno desportivo simpático e de comportamento interessante. A arquitectura de base não diferia muito da do Mini, pelo que a agilidade se mantinha, apesar de uma direcção menos directa. A suspensão dianteira era uma dor de cabeça.

Motor: 1275 cc; 72 cv às 5800 rpm
Dimensões: Comprimento: 3406 mm; Peso: 840 kg
Performances: 0-100 km/h: 12,2 s; Vel. Max.: 160 km/h
Preço: 924 c. (1985)
Menções honrosas: Metro Turbo

A favor: Um Mini mais moderno com um emblema da MG.
Contra: O Mini não tem plásticos manhosos.
Balanço final: E depois veio o Turbo…


Opel Corsa GT (1982)

O Corsa original tinha imensas virtudes: robustez, fiabilidade, conforto. O comportamento algo aborrecido não era uma delas. Ainda assim, o GT foi um fenómeno de popularidade. O volante desportivo, as jantes especiais e a decoração exterior, contribuíram muito.
O honesto mas modesto 1.3 de 70 cv talvez não seja um verdadeiro “hot-hatch” mas, antes, um carro “morninho”. Ainda assim, com um preço atractivo e um estilo “acelera”, marcou uma geração.

Motor: 1297 cc; 70 cv às 5800 rpm
Dimensões: Comprimento: 3622 mm; Peso: 775 kg
Performances: 0-100 km/h: 11,7 s; Vel. Max.: 166 km/h
Preço: 1099 c. (1986)
Menções Honrosas: Corsa GSI

A favor: O que é que pode correr mal?
Contra: A sua mãe aprovaria.
Balanço final: Já que não é apressado, procure um no amarelo original.


Honda Civic 1.5 GT (1984)

Estética à parte, os japoneses falham muito pouco. O Civic não tem muito carácter, mas é difícil argumentar contra um carro avançado tecnologicamente, competente e “à prova de bala”. O motor de 12 válvulas é solícito nas subidas de regime e o comportamento é eficaz.
Esta é, provavelmente, a mais feia de todas as gerações do Civic. No entanto, é interessante a ideia ter a primeira versão de um “hot-hatch” que tem vindo a fazer história.

Motor: 1488 cc; 100 cv às 5750 rpm
Dimensões: Comprimento: 3802 mm; Peso: 855 kg
Performances: 0-100 km/h: 8,9 s; Vel. Max.: 182 km/h
Preço: 2151 c. (1986)

A favor: Naquele tempo não vinham equipados com boné.
Contra: Os seus amigos não vão perceber a ideia.
Balanço final: Compre bem e será impossível arrepender-se.



Peugeot 205 GTI (1984-92)

O 205 é, quase sem oposição, o mais divertido e inebriante do seu género. O elástico motor da série TU tinha carácter e o comportamento nervoso do GTI era bem domado pelos comandos (direcção, caixa e pedais) intuitivos e com bom “feedback”. Muito importante para corrigir as derivas da traseira muito solta.
As belas linhas de Pininfarina, sublinhadas pelos pormenores desportivos, completam um “cocktail” absolutamente delicioso.

Motor: 1580 cc; 105/115 cv às 6250 rpm
Dimensões: Comprimento: 3705 mm; Peso: 850 kg
Performances: 0-100 km/h: 9,6 s; Vel. Max.: 196 km/h
Preço: 1889 c. (1985)
Menções honrosas: 205 Rallye, 205 GTI 1.9

A favor: Estética; comportamento radical.
Contra: Já não os fazem assim…
Balanço final: Seja rápido a comprar e a contrabrecar.


Citroën Visa GTI (1984)

É certo que não existem muitos carros mais feios que o Visa. Mas nas suas várias versões desportivas, graças ao comportamento são, este Citröen foi um dos mais eficientes da sua classe. A prová-lo estão os seus resultados nas pistas e nas classificativas de rali, que lhe conferem até um certo “pedigree”.
Se, por um lado, não é o mais desejável dos “hot-hatch” franceses, por outro, é um dos mais acessíveis. Infelizmente, já não são vulgares.

Motor: 1580 cc; 105 cv às 6250 rpm
Dimensões: Comprimento: 3708 mm; Peso: 890 kg
Performances: 0-100 km/h: 9,1 s; Vel. Max.: 175 km/h
Preço: 1515 c. (1985)
Menções honrosas: GT, GT Tonic, Bi-Campeão.

A favor: A beleza não é tudo…
Contra: …e a rapidez também não.
Balanço final: Esqueça o “polish”. Ateste o depósito.



Ford Escort XR3i (1985)

O XR3i tinha uma tarefa impossível: a de substituir os MKII RS. O seu aspecto mostrava ao que vinha: jantes especiais vistosas, “spoilers”, “letterings” e faixas autocolantes tipicamente “anos 80”. O resultado é simpático, à luz da época. As linhas disfarçam os quatro metros de comprimento e os 920 kg. O motor era, no essencial, o mesmo do Fiesta XR2, mas dotado de injecção Bosch. Os 103 cv permitiam rivalizar com o Golf GTI 1.6 em termos de performance.

Motor: 1597 cc; 103 cv às 6000 rpm
Dimensões: Comprimento: 4050 mm; Peso: 920 kg
Performances: 0-100 km/h: 8,8 s; Vel. Max.: 187 km/h
Preço: 1880 c. (1985)
Menções honrosas: RS Turbo

A favor: Aspecto interessante com as decorações originais.
Contra: Comportamento mediano.
Balanço final: Alternativa razoável, se não encontrar um RS Turbo.


Autobianchi Y10 Turbo (1985)

O design em cunha do Y10 era arrojado e original. Embora o Autobianchi não fosse tecnicamente revolucionário, a versão Turbo afigurava-se como uma proposta excitante. De facto, o motor sobrealimentado associado ao curto peso e tamanho, resultava num carro com acelerações de respeito. O que não era sinónimo de eficácia, já que a largura de vias e o conjunto chassis/suspensão, não encorajavam a explorar os limites.

Motor: 1050 cc; 85 cv às 5750 rpm
Dimensões: Comprimento: 3391 mm; Peso: 790 kg
Performances: 0-100 km/h: 10,2 s; Vel. Max.: 172 km/h
Preço: 1290 c. (1987)
Menções honrosas: Lancia Y10 GT i.e.

A favor: Estética original e raridade.
Contra: Atenção à curva!
Balanço final: Mais interessante de ver do que de guiar.


Fiat Uno Turbo i.e. (1985)

O Fiat Uno teve o êxito que seria de esperar de um sucessor do 127. Por isso, foi com naturalidade que o Turbo i.e. se tornou herói popular e um dos modelos mais adorados da sua classe. Apesar disso, as curvas não eram o seu forte e o carácter subvirador denunciava um conjunto dinâmico aquém do potencial do motor.
O Uno Turbo tinha o bónus de ser discreto. Mas a cultura “tuning” tem vindo a tomar conta desse assunto, tornando quase impossível encontrar um exemplar apresentável. Especialmente da 1ª série.

Motor: 1301 cc; 105 cv às 5750 rpm
Dimensões: Comprimento: 3645 mm; Peso: 845 kg
Performances: 0-100 km/h: 8,3 s; Vel. Max.: 196 km/h
Preço: 1449 c. (1986)
Menção honrosa: 127 com “kit” Abarth

A favor: Popularidade do modelo; Estética.
Contra: O clube do néon destruiu a maior parte deles.
Balanço final: Há sempre o Renault 5 GT Turbo...


Renault 5 GT Turbo (1985)

Se algum “hot-hatch” respira competição, esse carro é o GT Turbo. O carácter da versão desportiva não podia estar mais distante do “supercinco” original. Com alargamentos em plástico, bancos e volante desportivos soberbos e um comportamento agressivo, o GT Turbo arrasou, tanto nas cadernetas de cromos, como na competição.
Só a qualidade de construção e as limitações típicas de um Turbo a carburador, o afastavam da perfeição.

Motor: 1397 cc; 115/118 cv às 5750 rpm
Dimensões: Comprimento: 3589 mm; Peso: 855 kg
Performances: 0-100 km/h: 7,8 s; Vel. Max.: 193 km/h
Preço: 1560 c. (1985)
Menções honrosas: R5 Alpine e R11 Turbo

A favor: Ainda é rápido pelos padrões actuais.
Contra: Merecia uma injecção electrónica.
Balanço final: Ah, se eu pudesse…!


Citroën AX Sport (1987)

O AX tinha tudo a favor: uma estética interessante, uma carroçaria muito leve e um chassis de agilidade tipicamente francesa. Ao receber um motor 1300cc “regado” por dois Solex de corpo duplo, o AX Sport tornou-se o último (e sonoro) grito em condução desportiva. O trabalhar é delicioso e a forma como curva é viciante.
O pequeno Citröen arrasou na competição, provando que os seus fracos acabamentos e o interior espartano não são defeitos mas, antes, parte do carácter de um modelo ao estilo “homologation special”.

Motor: 1294 cc; 95 cv às 6800 rpm
Dimensões: Comprimento: 3531 mm; Peso: 715 kg
Performances: 0-100 km/h: 9,3 s; Vel. Max.: 175 km/h
Preço: 1634 contos (1988)
Menções honrosas: AX GT, AX GTI

A favor: Carburadores! Alma!
Contra: Tablier deplorável.
Balanço final: Alguém sabe de um para venda?


Daihatsu Charade Gtti (1987)

No mercado doméstico japonês, os “micro desportivos” são um conceito muito explorado. De vez em quando, um deles rompe fronteiras. O Charade GT ti é um concentrado de tecnologia japonesa: motor de 3 cilindros de 12v, Turbo IHI, injecção electrónica e Intercooler. Como resultado, as performances eram brutais para um carro com menos de 1000 cc. E apesar da potência específica de 100 cv/lt, a fiabilidade era a esperada de um produto japonês.

Motor: 993 cc; 99 cv às 6500 rpm
Dimensões: Comprimento: 3607 mm; Peso: 808 kg
Performances: 0-100 km/h: 7,7 s; Vel. Max.: 185 km/h
Preço: 2399 c. (1991)

A favor: Consumos; fiabilidade.
Contra: Peças de substituição.
Balanço final: Se conseguir encontrar um…


Opel Kadett GSI 16V(1989)

Por esta altura, as coisas ficavam mais sérias para os “hot-hatch”, que representavam um papel importante no panorama dos ralis. Com 150 cv e uma aerodinâmica apurada, o Kadett GSI era um carro muito rápido. O potencial mecânico era enorme (230 cv nas versões de competição) e a fiabilidade era a habitual dos Opel daquela geração. O comportamento, sendo competente, não era apaixonante.

Motor: 1998 cc; 150 cv às 6000 rpm
Dimensões: Comprimento: 4000 mm; Peso: 1007 kg
Performances: 0-100 km/h: 7,6 s; Vel. Max.: 212 km/h
Preço: 5274 c. (1989)
Menção honrosa: Kadett 1.8 GTE (1983)

A favor: Dezoito anos depois, 150 cv ainda é um número de respeito.
Contra: O Golf GTI 16v só tem menos 11.
Balanço final: Fica bem em qualquer garagem.


Suzuki Swift GTi (1989)

Os japoneses exploraram muito bem a temática dos “hot-hatch” de baixa cilindrada. Os Swift GTI são disso bom exemplo. Especialmente a segunda geração, de design mais inspirado e equipado com bacquets e outros pormenores interessantes. O design, o motor brilhante e a fiabilidade, faziam do pequeno Suzuki uma das melhores escolhas do seu tempo. Infelizmente, o comportamento era castigado pelas perdas de tracção e consequente subviragem. A menos que optasse pelo autoblocante, disponível na lista de opcionais.

Motor: 1298 cc; 100 cv às 6450 rpm
Dimensões: Comprimento: 3710 mm; Peso: 790 kg
Performances: 0-100 km/h: 8,6 s; Vel. Max.: 183 km/h
Preço: 2410 c. (1989)

A favor: Fiável e rápido para um 1300 cc.
Contra: Perdas de motricidade.
Balanço final: “Japonesice” da melhor.


VW Polo G40 (1991)

O Polo G40 poderia ter sido uma excelente reprodução do Golf GTI original que, entretanto, havia crescido. As dimensões e mesmo o aspecto geral do carro, não eram muito diferentes e o motor, graças ao compressor volumétrico, oferecia performances ligeiramente superiores. Infelizmente, a dinâmica do Polo estava muito aquém do que se exige de um desportivo, não permitindo explorar a potência.
A fiabilidade do G40 era outro ponto fraco.

Motor: 1272 cc; 115/113 cv às 6250 rpm
Dimensões: Comprimento: 3725 mm; Peso: 775 kg
Performances: 0-100 km/h: 8,6 s; Vel. Max.: 197 km/h
Preço: 2306 contos (1988) * G40 em Portugal em 1988???
Menções honrosas: GT

A favor: Reposta do motor. Jantes BBS.
Contra: Liga bem com boné e fato de treino. Fiabilidade.
Balanço final: Demasiado inguiável para ser apetecível.


Renault Clio Williams (1993)

Será o Clio Williams o “hot-hatch” perfeito? Mais do que um 16V com 200 cc extra, esta série especial beneficiava do “dedo” dos engenheiros da Williams no capítulo dinâmico. Assim, a Renault conseguiu aliar a boa qualidade geral do Clio a um chassis absolutamente brilhante, que equilibrava diversão e segurança.
Outro dos fortes deste Clio é a estética. As linhas musculadas do 16V, ficavam favorecidas pelo azul Williams (cor única) e pelas lindas Speedline 15’’ em dourado.

Motor: 1998 cc; 150 cv às 5800 rpm
Dimensões: Comprimento: 3712 mm; Peso: 1010 kg
Performances: 0-100 km/h: 7,8 s; Vel. Max.: 215 km/h
Preço: 5393 contos
Menção honrosa: Clio 16V; Clio S

A favor: Objecto de culto.
Contra: Raro e caro.
Balanço final: Um “luxo” altamente desejável
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