Este blogue é um espaço destinado à compilação de textos sobre o mundo motorizado, que vou escrevendo para diferentes meios.
Embora não seja uma actividade que desenvolva em termos profissionais, é algo que me dá muito prazer, que tento fazer cada vez melhor e que tenho gosto em partilhar.
Se desejar ser notificado de cada uma das actualizações mensais, escreva-me para hugosantosreis@gmail.com .

segunda-feira, 2 de julho de 2007

2005.07.20 em GTclube.com
Aquilo de que são feitos os sonhos.
Grande Prémio Histórico do Porto.

http://www.gtclube.com/eventos/20050710cboavista/index.htm



Na Rua da Vilarinha, entre muros e rails ameaçadores, Michael Schryver faz ouvir bem alto o som do motor do mesmo carro com que Surtees bateu o recorde do Circuito da Boavista em 1960, a uma média de 180,744 km/h. As pessoas, de cima dos muros, decoram os limites da pista. Os moradores mais velhos, entusiasmados, esticam o pescoço para fora da janela de casa. E é quanto lhes basta para ver bem de perto o Lotus 18. Por detrás dos portões ladram cães à passagem dos bólides que espalham o seu grito entre as paredes, dentro da tasca, para lá dos telhados e até bem longe da Circunvalação.


Desde a última visita da Fórmula 1 à cidade do Porto, este desporto tornou-se mais racional e regrado. Por esse e por outros motivos, desapareceram os paralelos e os trilhos do eléctrico que elevavam o desafio da velocidade a níveis excessivamente perigosos. Mas, felizmente, correr na Boavista não deixa de ser um desafio. Com zonas muito rápidas, seguidas de curvas fechadas para zonas muito estreitas, uma descida sinuosa e os pouco misericordiosos muros de betão a limitar toda a pista, este circuito requer bravura. Também por essa razão, assistir ao Grande Prémio da Boavista é, efectivamente, regressar aos anos de ouro do automobilismo. Esta aparente loucura e o clima de emoção foram os ingredientes que trouxeram popularidade ao automobilismo. Hoje, numa era em que o desporto automóvel é cada vez mais condicionado por regras de segurança, de economia ou de ambiente, é bom saber que continuarão a existir lugares em que o espírito da modalidade está bem vivo. E saber que um desses raros lugares fica no nosso país, é um especial motivo de orgulho.

Para quem vive no Norte de Portugal, é difícil falar desapaixonadamente da zona da Foz do Douro. O cheiro do mar, o calor, a magnífica paisagem, as belas casas antigas, as pessoas que se passeiam pela longa Avenida, tudo faz parte do seu encanto. Se durante 3 dias juntarmos a tudo isto um clima de festa composto por 390 carros de sonho, 460 pilotos e um programa de 15 corridas e respectivos treinos, não há melhor lugar no mundo para se estar.

O espectáculo do automobilismo clássico, começa no próprio paddock onde se pode ver de perto carros que todos os entusiastas conhecem, mas que poucos terão visto. E neste capítulo, impressiona o estado de conservação da maior parte dos veículos trazidos ao Grande Prémio do Porto. Estas são máquinas que, felizmente, se mantêm em actividade mas de cujos proprietários não descuram a conservação. Excepção feita a alguns carros que se mantêm originais (não restaurados) desde os seus dias de glória, todo o paddock é preenchido por cromados brilhantes e linhas magníficas. Na verdade, todo o ambiente do paddock espelha o espírito das provas do passado. Por contraste com as imponentes motorhomes do Campeonato Espanhol de GT, era possível encontrar pilotos que nada mais traziam do que uma station, um atrelado, o carro de corrida e o mesmo tipo de bagagem de um qualquer campista.

No que diz respeito às provas, este foi um fim-de-semana de contrastes, o que contribuiu para um espectáculo animado e nada monótono. È interessante no mesmo evento poder comparar a brutalidade dos GT com a delicadeza dos pré-guerra ou a condução limpa das Gentleman Series com a condução muito pouco “gentleman” do Troféu Datsun 1200.

Mas muito já foi dito e repetido sobre as competições do fim-de-semana mais importante do automobilismo nacional dos últimos anos. O que nunca será demais repetir, são os elogios e os agradecimentos à organização que concretizou um sonho de toda a comunidade nacional de aficionados do automobilismo, vencendo as críticas de todos os que não veêm para além dos incómodos inerentes à organização de tal evento. Graças ao arrojo e à ambição de todos os organizadores, prevê-se que em 2007, a capital do Norte seja o palco das comemorações do aniversário da Historic Grand Prix Association, marcando definitivamente o seu lugar no mapa dos eventos históricos.

Sem comentários: