Este blogue é um espaço destinado à compilação de textos sobre o mundo motorizado, que vou escrevendo para diferentes meios.
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segunda-feira, 2 de julho de 2007

2006.04.04 em GTclube.com
Porque a vida não é só feita de automóveis.
Rali Terras da Maia 2006

http://www.gtclube.com/eventos/20060401rtmaia/index.htm

foto: Hugo Reis

É sexta-feira e a sua mala de viagem está carregada não no seu habitual e racional meio de transporte, mas antes, no alvo das suas paixões. No clássico a que provavelmente dedicou grande parte do seu tempo e orçamento livres, mas que só esporadicamente pode guiar e por períodos de tempo que sabem sempre a pouco. É um veículo improvável para uma viagem, mas a confiança de que um levará o outro ao seu destino é mútua entre condutor e automóvel. É aí que começa o prazer.


No caminho que leva ao ponto de partida, condutor e carro são outsiders. Como alienígenas num planeta onde os primitivos são mais cinzentos, mais tristes e bastante mais envergonhados.
O sorriso de criança que por esta altura será indisfarçável, tem um significado e um valor, que só saberão reconhecer aqueles que mais gostam de si. Entendem o que estes momentos significam e não hão-de querer perder a oportunidade de fazer parte deles. Por isso, o mais provável, é que no banco do lado esteja alguém que lhe diz muito. E porque o convívio não termina no banco do lado, ao fim da sua primeira participação, é provável que o seu círculo de amigos tenda a alargar-se. Os interesses são comuns e isso é meio caminho andado para um bom entendimento. Por isso, chegado à partida, encontra o seu habitat natural. Um ambiente onde a sua paixão deixa de ser doença. Onde as suas extravagâncias são entendidas como investimentos. Onde o seu entusiasmo não é uma infantilidade, mas uma sensação partilhada.
Mas além da boa companhia, o que mais está sempre presente numa escapadinha de fim-de-semana? Sabores. Típicos e nada modestos. Nenhuma outra forma de arte se aprecia de forma mais relaxada do que a gastronomia. A profundidade e eloquência da gastronomia nacional são talvez a razão pela qual temos o hábito de viajar à conquista de um determinado sabor, num determinado local, a uma determinada hora. Um esforço demasiado grande por um prazer tão efémero – argumentam, logicamente, os racionais. Mas convém não esquecer que falamos daqueles que adoram os prazeres da vida. E esses, são hábeis a justificar as suas irracionalidades. Nem que seja com outra irracionalidade como, por exemplo, percorrer o caminho mais longo… Haverá prazer maior do que o caminho mais longo percorrido com amigos, com família e com o carro do nosso imaginário de criança?

Por esta altura, poderá questionar-se se estas linhas são, afinal, sobre automóveis. Certamente são sobre muito mais do que apenas automóveis. Mas assim o são também os ralis de regularidade clássica.
Sobre o extraordinário Rali Terras da Maia de 2006, em particular, basta sublinhar a simbiose perfeita entre automóveis e cenário. As linhas ondulantes e sensuais do XK 140 combinavam na perfeição com as do Douro, das suas estradas e pontes. O ar pitoresco e experiente do Ford T fazia par com o “velho casario” das margens ribeirinhas. O Stratos, com o seu carácter extrovertido mas simples, era a metáfora perfeita para o carácter das gentes do Porto. Carácter que, desta vez, era comum aos que estavam de visita.

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